Épico acompanha a história da Terra quando as estrelas apagam dos céus por bilhões de anos
A história de Spin começa, diz o livro, “depois de amanhã”. Um grupo de garotos está observando os céus em uma noite tranquila quando as estrelas e a lua se apagam subitamente do céu. Como se Deus tivesse desligado a caixa de força do Universo.
O Sol, curiosamente, dá as caras na manhã seguinte, mas as investigações revelam que se trata de um simulacro, um sol projetado apenas para manter a vida no planeta, que é cercado por uma misteriosa membrana. Além de interceptar a luz, essa barreira faz com que o tempo passe mais rápido na Terra do que no restante do Universo. Muito mais rápido. Nos trinta e tantos anos terrestres que a história engloba, se passam mais de 300 bilhões de anos no exterior.
Spin foi o vencedor do PrĂŞmio Hugo em 2005 e foi escrito por Robert Charles Wilson, tambĂ©m responsável por Darwinia. Trata-se de uma ficção cientĂfica no estilo “hard”, ou seja, criada a partir de pesquisa rigorosa, particularmente na fĂsica e biologia, com doenças fictĂceas de surpreendentemente profundidade entre os sobreviventes do evento que assola o planeta.
Há um crescendo intrigante na histĂłria conforme as pessoas descobrem aos poucos do que exatamente se trata a membrana e quem teria fez isso, alienĂgenas chamados de “os hipotĂ©ticos” pela imprensa. Os anos vĂŁo transcorrendo e o leitor acompanha como seitas religiosas surgem e caem, novas ordens polĂticas aparecem, conflitos pipocam, interesses cruzados se chocam. As descrições sĂŁo bem realistas e parecem ser mesmo algo que vocĂŞ leria na mĂdia depois que algo semelhante Ă quele evento, chamado de Spin, acontecesse.
O artifĂcio da mudança relativa do tempo tambĂ©m Ă© empregado de forma bastante inteligente. Em determinado momento, Ă© delineado um ousado plano de colonizar Marte como forma de perpetuar a raça humana. Como o tempo passa exponencialmente mais rápido fora da Terra, os foguetes com microorganismos lançados em intervalos de poucos minutos uns dos outros, chegam a marte com centenas de anos de diferença e vĂŁo por milhões de anos criando uma atmosfera no planeta vermelho. Colonos humanos sĂŁo enviados e em dois anos um dos representantes retorna Ă Terra. Membro de uma civilização de mais de 100 mil anos de tradição que os terráqueos criaram há apenas dois anos atrás.
Uma crĂtica que faria ao livro, Ă© que ele poderia ser mais curto. A histĂłria se alonga demais, e possui um par romântico que nĂŁo me criou lá muita empatia. É difĂcil nos dias atuais encarar um casal que se ama platonicamente por dĂ©cadas, pois “algo os separa”. O autor poderia se concentrar mais no intrigante mistĂ©rio do Spin do que em pares clichĂŞs. ApĂłs a tensĂŁo tambĂ©m ser segurada por tanto tempo –o livro tem mais de 450 páginas na versĂŁo dita “pocket”- eu imaginava que apenas um final muito genial poderia fechar a coisa de forma satisfatĂłria, e infelizmente ele nĂŁo veio.
Objeções menores, no entanto. Spin me lembrou das teorias de que o nosso universo Ă© um simulacro, tipo uma caixa de Skinner para sermos estudados por uma raça superior. Ele entĂŁo levanta a pergunta: o que farĂamos se um dia encontrássemos o fim da caixa?
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