Filme da Netflix traz uma criança sendo criada amorosamente por uma máquina no pós-apocalipse.
Não há nada mais biológico do que uma mãe. Nada mais humano do que uma mãe educando uma filha. Mas será que um robô não faria um trabalho melhor?
Em sua enxurrada de conteúdo original que tenta agradar a todos os gostos possíveis, a Netflix acaba com algumas produções interessantes de ficção científica. I am Mother é uma dessas, começa pouco após a destruição da humanidade e mostra um robô criando com carinho e atenção uma criança gerada in vitro até a adolescência.
Existe um contraste entre frio da máquina e o calor humano nas cenas em que vemos a jovem crescendo, chamada apenas de “filha”, enquanto o robô é apenas “mãe”. Um contraste entre a dureza do metal e a fragilidade da carne. E, como costuma ser tradição em filmes com IA, tem aquele olho ciclope luminoso bem naquele estilo do HAL 9000. Bem pra transmitir a ideia de uma máquina do que é um olhar humano, que você não vê alma atrás, apenas a máquina calculando.
Filha vive uma vida aparentemente perfeita mesmo sem o contato humano em seu bunker subterrâneo tem aulas de retórica (até aulas de balé ela tem), enquanto espera poder ajudar a criar mais um dos 63 mil embriões humanos congelados na instalação. Até que uma visitante ferida chega de fora e… surpresa, o apocalipse foi criado pelas inteligências artificiais, que estão brutalmente caçando os últimos sobreviventes.
Um dilema que aparece seguidamente em filmes de ficção científica de inteligências artificiais é: se ela é programada para defender a humanidade contra a sua maior ameaça, o que a IA faz quando percebe que a humanidade é a sua própria maior ameaça?
Filmes com robôs ou IAs costumam seguir dois rumos: ou as máquinas são mecanismos frios de matar quando se rebelam, como em Exterminador do Futuro, ou revelam ser mais humanos que nós mesmos, como os replicantes que apenas buscam viver de O Caçador de Androides. Eu gostei como I am Mother combina esses dois lados, e a maior graça do filme pra mim foi essa ambiguidade, com você constantemente questionando se Mãe tem emoções, ou emula emoções, se ajuda a humanidade ou tudo não passa de um experimento. Ou quem sabe as duas coisas.
I am Mother é uma premissa muito simples no início, mas conforme você pensa mais no filme, percebe que podem existir outros planos por trás. O olhar humano enxerga alguns movimentos adiante em um jogo de xadrez, mas a máquina pode estar pensando em centenas, milhares de movimentos adiante. Cada vida uma peça.
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