The Antidote é um livro que eu comprei pela tagline: “felicidade para quem odeia pensamento positivo”. Eu sempre cultivei um ódio especial no meu coração para o discurso do pensamento positivo acima de tudo, popularizado livros de autoajuda como O Segredo.
O autor de The Antidote começa o livro em um desses retiros de pensamento positivo a todo custo, que culpa todos os infortúnios por não estar pensando positivo. É um formato muito semelhante de um culto. Como se você não acreditasse o bastante em deus pra ele te melhorar a sua vida. É um convite para botar o seu pensamento pra entrar em uma série de Viés cognitivos, como o Pensamento mágico e a Apofenia.
Mas pensar negativo não é receita para ser infeliz? Não necessariamente. O livro defende um conceito que ele chama de Capacidade Negativa, inicialmente descrito pelo poeta John Keats, que ele define como: “a capacidade de um indivíduo de permanecer em um estado de dúvida e incerteza de uma forma calma e aberto a novas possibilidades”. E, sinto informar, mas 99% da vida são incertezas.
Isso permite um estado chamado Equanimidade, uma “calma positiva”, uma virtude relacionada a autocontrole, autoregulação emocional e capacidade de manter a calma e a clareza de pensamento mesmo em situações difíceis. Calma é um superpoder. Isso difere muito do fervor defendido pelo pensamento positivo radical. Também vai de encontro ao conceito de Eudemonia, um estado calmo de bem-estar da filosofia grega.
O livro traz alguns exemplos de como o fracasso pode na verdade ser muito positivo, como um curioso museu de produtos que não deram certo, e como essa ideia de que O fracasso é o maior professor pode nos ajudar a não cometer mais erros. Nós como sociedade supervalorizamos o sucesso, esquecemos o quanto ele depende do acaso, e subvalorizamos e escondemos o fracasso, sendo que ele é uma fonte valiosa de aprendizado. Isso também pelo Survival Bias.
Em sua forma patológica extrema, o medo de falhar é conhecido como Ataxofobia (Medo de falhar), mas é um traço muito característico na nossa sociedade obcecada com sucesso.
The Antidote é um livro que não traz uma receita pronta de felicidade, mas que mostra como a felicidade real precisa não só dos bons momentos para existir, mas da dificuldade também. Uma vida feliz não é uma vida em que você ignora o que é ruim, mas que você usa o ruim para o seu autoaprimoramento. O livro não tem edição no Brasil.
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