Histórias Brilhantes – 10 HQs de Alan Moore, de Alan Moore – 📖 Leituras do Solari #218

Alan Moore é uma lenda dos quadrinhos, responsável por algumas das mais aclamadas graphics novels já publicadas, como Watchmen, V de Vingança, Do Inferno e Monstro do Pântano. Histórias Brilhantes, por sua vez, é uma coletânea de histórias pelas quais Moore justamente NÃO é conhecido, pelo menos pelo grande público.

Existe um lado aconchegante de ler “o lado B” de um artista. Para millenials e gerações z, “lado b” era o lado menos conhecido de uma banda em objetos chamados fitas cassete, quando ouvíamos elas no Jurássico. Era o lado que não trazia as faixas chiclete e blockbusters da rádio, e por isso mesmo onde o artista podia arriscar mais, ser mais experimental.

Mas voltando ao século 21, não diria que é uma analogia perfeita neste caso, porque nunca vi uma história de Alan Moore que não tenha essa pulsão viva da busca da experimentação, mesmo nas mais mainstream. Mas a coletânea mostra um formato curto no qual ele pode rapidamente se lançar em uma ideia – ou várias – sem que ela precise ser A Grande Obra, proporcionando uma variedade de temas tão grande em 10 Histórias Brilhantes: 10 HQs de Alan Moore 3 histórias que, como o organizador Marc Sobel aponta no prefácio, poderia muito bem vir de 10 escritores diferentes.

Nestas mais de oitenta páginas de quadrinhos, há um thriller. de ficção cientifica com consciência social, uma desconstrução autorreflexiva dos super-heróis, uma adaptação experimental de recordações antibelicistas, um exame épico sobre a cultura gay em prosa poética, uma provocativa análise sobre o fascínio exercido pelo suicídio, um comentário abrasador em relação ao imperialismo cultural e às políticas globais, uma meditação sombria e duradoura a respeito dos efeitos colaterais do processo criativo, uma autobiografia hilária de um mascote corporativo, uma resposta ao 11 de Setembro, reflexiva e cheia de nuances, e uma biografia meticulosamente pesquisada sobre uma obscura personalidade do mundo ocultista.

Muito se fala que Alan Moore é um “mago dos quadrinhos” devido ao se interesse na vida real pelo ocultismo, mas poucas vezes param para pensar como ao menos parte desse misticismo pode ser explicado pelo fato de que, para Moore, toda ficção é “real”. Talvez não em um sentido material, de que em algum planeta do multiverso existe um Super-men real voando de capa por aí. Mas se uma história ou um personagem podem fazer você rir ou chorar no mundo dito real… como dizer que ele não “existe” de certa forma.

Na filosofia pessoal de Moore ideias e personagens ficcionais são tão reais quanto eu e você, e existiria um Macrouniverso onde personagens de “Imatéria” coexistem, livres de “travas” de ideias como leis de registro de propriedade intelectual. E se você vê personagens como pessoas reais, fica difícil não ter uma responsabilidade com o bem estar delas. De não apagar as ideias antigas, como acontece tantas vezes em reboots de universos nos quadrinhos. E mudar um personagem fictício para algo que contradiz o passado dele talvez seja o mais perto que a ficção pode chegar da prostituição. Algo que bete muito com a teoria dos memes, de como essas partículas de informação “infectam” nossas mentes, mutam e competem para “sobreviver” como qualquer organismo biológico.

Eu gostei muito principalmente dos quatro primeiros contos da coletânea. Um pouco sobre eles abaixo:

  • O Amor Não Dura Para Sempre – Uma metáfora para o medo da AIDS dos anos 80 na forma de uma doença venérea alienígena, com um punchline de aceitação de formas de amor “alternativas”.
  • Em Pictopia – Uma cidade na qual os quadrinhos vivem, os antigos em decadência conforme novas formas de heróis “radicais” ao estilo X-Men e Judge Dredd vão ganhando espaço e apagando o passado.
  • Tapeçarias – Conto biográfico de um veterano no Vietnã, alternando de forma condensadíssima a cultura norte-americana e as atrocidades que ela causou.
  • O Espelho do Amor – Um épico sobre o amor do mesmo sexo ao longo da história e pré-história, sob o contexto de leis homofóbicas sendo criadas no Reino Unido dos anos 1980.
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