White Line Fever – por Lemmy Kilmister 📖 Leituras do Solari #189

Autobiografia do vocalista do Motörhead vai além de ser um relato das loucuras típicas de bandas de rock pelo surpreendente dom de contar histórias de Lemmy

Eu já esperava relatos de doideiras de bastidores com drogas e sexo – afinal que biografia de rock se sustenta sem isso? – mas o que me surpreendeu em White Line Fever foi a capacidade de Lemmy de contar boas histórias. Verdadeira versão deturpada de um tiozinho mineiro contador de causos.

Suspeito que o livro foi narrado por ele pelo tom, o que passa a sensação de estar do lado dele ouvindo. E, rapaz, esse tem história pra contar sobre muita gente do rock. Portanto, dessa vez vou falar menos sobre o livro e deixar a palavra mais com o Lemmy mesmo.

Infância – “Eu sou conhecido como Lemmy desde que tinha dez anos. Eu ainda não tinha o bigode… só tive ele aos onze”.

Interesse pela música – “Decidi aprender a tocar violão em parte pela música, mas garotas foi 60% do motivo. Eu descobri que incríveis ímãs de buceta eram os violões no final do ano escolar”.

Os Beatles – “[num show da banda] alguém gritou ‘John Lennon é um viado!’ [sobre o empresário dos Beatles, Brian Epstein, que era gay] e John – que nunca usava óculos no palco – baixou a guitarra e entrou na multidão, gritando ‘Quem falou isso?’ e esse garoto diz ‘fui eu’. John foi pra cima dele e BAM deu um beijo de Liverpool [cabeçada] – duas vezes! O moleque caiu cheio de sangue e John voltou para o palco. ‘Mais alguém?’, ele perguntou. Silêncio. ‘Beleza. Some Other Guy’”.

Os Rolling Stones – “Os Rolling Stones eram os filhinhos de papai [comparados com os Beatles] – universitários das proximidades de Londres. Eles foram passar fome em Londres, mas foi por opção, para ganhar uma aura de respeitabilidade. Eu gostava dos Stones, mas eles não chegavam nem perto dos Beatles – não com humor, originalidade, com as músicas ou apresentação. Tudo que eles tinham era o Mick Jagger dançando. Pra ser justo, os Stones fizeram álbuns excelentes, mas eles sempre foram uma porcaria no palco, que era onde os Beatles funcionavam de verdade”.

O Brasil – “A gente nunca viu nada como o Brasil. De um lado, você tem a praia de Copacabana com bilionários e suas putas, e 200 metros dali têm pessoas morando em caixas de papelão no esgoto. Você tem shoppings com tudo o que pode querer e do lado, literalmente na beira do estacionamento, tem uma favela com um fio saindo do poste e uma lâmpada em cada caixa de papelão. A gente viu um cara morando debaixo de uma ponte com uma mesa, sofá e um quadro na parede – a cinco metros do trânsito. […] Não foi uma turnê excelente, mas foi impressionante mesmo assim. Nós voltamos para casa com montanhas de dinheiro que não valiam praticamente nada – era como a Alemanha Weimar. Lugar interessante, mas bastante assustador, para falar a verdade”.

Jimi Hendrix – “Eu trabalhei para a banda dele por um ano em shows e programas na Inglaterra. Ele é o guitarrista mais surpreendente que já existiu, sem dúvidas. Tudo nele era excelente – ele tocando era de cair o queixo. Ele deixava as garotas loucas. Eu vi ele entrar em um quarto com cinco mulheres – e elas todas saíram com um sorriso no rosto. E, claro, nós da equipe ficávamos com as que sobravam”.

O filho – “Eu o conheci quando ele tinha 6 anos, comprando coca de uns brasileiros em Warwick Road, Earls Court. A gente estava esperando a parada chegar e eu estava na cozinha fazendo uma torrada. Aí entra esse moleque loiro. ‘Você é meu papai’, ele me diz. ‘A mamãe está no outro quarto’”.

O filho (2) – “E ele roubou uma garota de mim. Mas eu a consegui de volta – e roubei uma dele. Na verdade a gente trocou de garotas uma noite, no Stringfellows, em Londres. Você ficaria surpreso com quantas mulheres querem trepar com pai e filho”.

Ozzy – “Ozzy era um cara legal – ainda é. Muito perturbado, mas legal. Claro, você acaba ficando estranho quando as pessoas jogam meia dúzia de pombas com pernas e asas quebradas toda vez que você se apresenta. Outras coisas caíam nos pés dele também – sapos, cobras vivas, uma cabeça de veado, uma cabeça de touro, e tudo por causa daquela história que ele mordeu a cabeça de uma pomba em um encontro com a gravadora. Eu não sei como ele conseguia continuar trabalhando naquela turnê. Ele devia ficar o tempo todo nervoso, nunca sabendo o que iam jogar nele”.

A banda mais alta do mundo – “[Em um show em Port Vale], durante a passagem de som um cara ligou de quatro milhas dali reclamando que não conseguia ouvir a TV, e isso era ainda só a guitarra do Eddie”.

Pós-show – “Depois de um show eu gosto de transar imediatamente, se possível (como muitos de vocês já sabem). Gosto de pegar uma garota e ir pra algum lugar com ela. Eu não ligo onde. Pode ser numa boate ou na parte de trás de um ônibus ou qualquer coisa”.

Sex Pistols – “Eu dei algumas aulas de baixo para o Sid Vicious, mas depois de três dias eu precisei falar: ‘Sid, você não toca baixo’ e ele disse ‘é, eu sei’, ficou todo deprimido e caiu fora. Depois de alguns meses eu o encontrei no Speakeasy e disse que estava tocando baixo nos Sex Pistols. Eu disse: ‘mas você não toca baixo, Sid’, e ele respondeu ‘é, é, eu sei, mas eu estou na porra dos Pistols!’”.

Drogas – “Eu não recomendo o meu estilo de vida para outros – ele mataria uma pessoa normal. Não é piada, e vou dizer como sei: em 1980 eu decidi trocar meu sangue – você sabe, o mesmo processo que dizem que o Keith Richards fez. É uma boa ideia, de um ponto de vista lógico, porque instantaneamente você tem sangue fresco e não precisa passar pelo estresse de desintoxicar. Então eu fui com meu empresário fazer alguns testes e ele veio com as más notícias: ‘Eu preciso dizer isso, sangue puro mataria você. Você não tem mais sangue humano e não pode doar sangue também. Você é tão tóxico que mataria uma pessoa’”.

Drogas (2) – “Dikmik e eu estávamos acordados há três dias, mandando ver no Dexedrine. Daí a gente ficou um pouco paranóico e tomamos uns depressivos – Mandrax – mas a gente achou que não era muito interessante porque nos acalmou demais, então tomamos ácido e depois Mescalina para dar um pouco de cor. Começou a ficar muito louco, então tomamos mais Mandrax… e depois mais anfetamina porque ficamos muito devagar de novo”.

Deixe um comentário

Faça o login usando um destes métodos para comentar:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: