The Quiet War – de Paul McAuley 📖 Leituras do Solari #177

História de sci fi hard na qual Brasil é potência traz política, ecologia e intriga

Imagine que século 23 o Brasil é uma potência mundial que toma controle de toda a América do Sul e do Norte, que foi devastada por mudanças climáticas. E não só o império brasileiro controla com punho de ferro verde-amarelo metade do globo na história de The Quiet War, como os líderes tem grande semelhança de estilo governamental com certo um clã político lá do Maranhão. Sarneys no espaço. Isso sim é que é distopia.

Esse império conhecido como Grande Brasil, de fortes tendências facistas, faz um contraponto com as democracias das colônias que se estabeleceram nas luas de saturno, Júpiter e outros planetas do sistema solar, povos chamados de outers. O livro acompanha as maquinações políticas entre brasileiros e outers conforme os brazucas tentam forçar uma guerra e anexar as nações fora da Terra, que apesar de extremamente ricas culturalmente e de tecnologia avançada, não possuem a força bruta militar dos tupiniquins.

As populações das colônias são interessantes. Colonizadas originalmente por cientistas em domos protetores, sua população abraçou com naturalidade a manipulação genética para se adaptar a outras condições atmosféricas ou de gravidade ou só por motivos estéticos. E possuem uma democracia radical onde todos discutem fervorosamente qualquer assunto numa internet, além de terem diversos estilos artísticos inusitados. Há também uma grande separação geracional na sociedade entre os velhos, que fazem parte dos colonos originais que vieram da Terra, e os jovens que já nasceram por lá. Os primeiros temem um enfrentamento direto com os terráqueos enquanto os jovens são agressivos e tentam forçar o confronto.

“ Sarneys no espaço. Isso sim é que é distopia.”

O autor Paul McAuley é pesquisador em biologia e grande parte do lado hard do livro se dá pelas minuciosas considerações sobre a reconstrução da flora tanto na Terra como em jardins das colônias espaciais. Assim como longas descrições de mundos aquáticos, luas congeladas, etc. Por esse motivo, não é um livro pra qualquer um, pois boa parte das 400 páginas de The Quiet War estão carregadas com parágrafos gigantes descrevendo o ciclo de vida de bactérias que formam o solo, a composição química de plantas, proteínas modificadas, etc.

É um livro muito mais sobre a preparação para a guerra do que a guerra em si, que quando ocorre é rápida e brutal (me lembrou Dogs of War nesse sentido). Os personagens são variados e bem escritos e se encaixam em arquétipos reconhecidos como O Cientista, O Soldado, O Diplomata, mas com bastante profundidade de biografia e motivações para não serem clichês.

“…lembro de ter engasgado feio com o café ao ler a descrição da nave de carga Luis Inácio da Silva e seu motor de fusão experimental.”

Tenho a impressão que o escritor escolheu o Brasil como potência apenas para ter um império mais exótico, e mostrar como as nações desenvolvidas podem perder a hegemonia no caso de grandes mudanças climáticas. Mas o fato do livro representar um Brasil futurista cria diversos momentos inadvertidamente cômicos para os leitores brazucas. Em um exemplo entre muitos, lembro de ter engasgado feio com o café ao ler a descrição da nave de carga Luis Inácio da Silva e seu motor de fusão experimental. Só faltava aparecer o cruzador espacial Duque de Caxias em algum lugar da narrativa.

Um bom livro de ficção científica hard que mistura intriga política, personagens multifacetados, sociedades exóticas, mas é só para quem tem bastante interesse por parágrafos e parágrafos de descrições de luas, planetas e conceitos biológicos.

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