Buddhism Begginer’s Guide, de Michael Williams – 📖 Leituras do Solari #220

“O próprio homem é o que mais me surpreende sobre a humanidade. Porque ele sacrifica sua saúde para ganhar dinheiro. Então ele sacrifica dinheiro para recuperar sua saúde. E então ele está tão ansioso com o futuro que não gosta do presente; o resultado é que ele não vive no presente ou no futuro; ele vive como se nunca fosse morrer, e depois morre sem nunca ter realmente vivido.” – Dalai Lama

Antes de falar do livro em si, uma breve introdução ao Budismo de alguém que não é nem de perto especialista. O budismo começou a cerca de 2,5 mil anos na Índia, quando um príncipe nepalês chamado Siddhartha Gautama, que teve uma vida protegida contra as maldades da vida, saiu de seu palácio e encontrou um mundo de morte, doença e sofrimento. Siddharta renunciou à riqueza e passou a via como um andarilho, meditando e viajando até chegar a um novo estado de consciência que escapa ao ciclo de sofrimento da vida ao atingir um estado de iluminação plena chamado nirvana.

Eu peguei esse livro porque, apesar de não me considerar budista, o budismo foi a religião que mais me atraiu desde de criança, a que mais esteve próxima de fazer sentido pra mim. Pra começo de conversa, é praticamente uma religião atéia, sem um deus ou deuses. Estou generalizando aqui, existem inúmeras vertentes budistas, mas uma das suas mensagens mais poderosas é a ausência de uma figura divina superior. Nem mesmo Buda é um deus que ordena, mas um exemplo a ser seguido.

Em uma história, monges surpresos com Buda perguntaram se ele era um Deus, e a sua resposta famosa foi: “Não. Eu estou acordado”. É realmente a ideia de que nossas mentes estão em um estado de sonolência ou embriaguez, e que existe um estado de estar mais acordado do que acordado. A Consciência não é fixa.

A palavra “Buda” não é um novo nome de Siddharta, mas um título, sendo que ele é na verdade o primeiro buda. “Buda” é muitas vezes traduzido como “o iluminado”, mas eu acho que essa tradução induz a uma visão mais ocidental e cristã, como se um faixo de luz divina caísse dos céus sobre ele. Uma tradução mais precisa é justamante “aquele que acordou”. O que nos leva a uma ideia bem interessante do budismo como caminho para um novo estado de consciência. O lado mais científico desse possível estado de consciência é mencionado mais a fundo na resenha do livro Altered Traits.

Mas e quanto ao livro em si? Buddhism Begginer’s Guide entrega o que promete de dar um panorama geral das doutrinas, principais características, variações de budismo, tipos de meditação, um extenso capítulo sobre posições de yoga, e explicações sobre conceitos como Dharma, As Quatro Nobres Verdades, O Nobre Caminho Óctuplo, A Cadeia de Causalidade, As Três Marcas da Existência e Os Três Venenos.

Uma ideia central que ele aponta é a importância de preciso absorver cada momento, porque cada momento é onde você deve estar. Para isso, O mais importante é a atenção, sendo a atenção algo que deve ser treinado no cérebro assim como o corpo deve ser treinado pelo yoga. Essa é a única forma de amenizar o sofrimento inerente à vida. Relacionado ao Memento Mori.

Essa ideia de que viver é sofrer do budismo pode afastar algumas pessoas, mas eu acho que ela mostra um ponto importante e que a nossa sociedade ignora sobre desejo. Nós temos a ideia de que o desejo, qualquer desejo, é algo que pode ser saciado. Mas tentar apagar os desejos satisfazendo o que ele quer é como tentar apagar fogo com lenha. Como o fogo, o desejo fica mais forte quanto mais você o alimenta. Desejo é fogo.

Um teste simples sobre a ideia budista de que o sofrimento é algo inirente à vida. A base de todo sofrimento é querer algo e não ter, seja segurança, mais dinheiro, saúde, uma carreira melhor. Mas a pergunta é: quando na sua vida você esteve completamente satisfeito?” Pode ter momentos de plenitude, aqueles dias de “lua de mel” após conseguir um emprego, uma tarde de domingo perfeita, mas uma satisfação permanente, que não acaba, que se estende por dias, meses, anos?

Outro ponto central do budismo é a busca para discernir a realidade. Nós achamos que estamos aqui na Terra, no Brasil, neste universo, mas na verdade Habitamos em nossa mente. Nós moramos em uma abstração que a nossa mente constrói do mundo, uma abstração que parece tão real que de fato se confunde com a realidade. Mas se pensarmos que já estamos na realidade, ignoramos como nossas emoções, pensamentos, Viés cognitivos alteram a nossa percepção do mundo. Portanto, segundo o budismo, tudo o que acontece no mundo na verdade está acontecendo na sua mente.

O próprio sofrimento está na sua mente. O que leva ao ditado budista de que A dor é inevitável o sofrimento não. A sensação da dor virá inevitavelmente na vida, mas é como a sua mente interpreta essa dor que vai fazer você sofrer ou não.

O budismo dá uma importância extrema à empatia, não só com seres humanos, mas com todas as criaturas do mundo. Isso é muito aparente na figura dos Bodhisattya, budistas já em um estágio para atingir o nirvana, mas que atrasam o nirvana para ajudar o restante da humanidade a “acordar”.

Outra coisa que eu gosto do budismo é como muitos dos reinos infernais ou elevados, ou até o ciclo vicioso do sofrimento Samsara pode ser interpretado não como lugais físicos no qual a sua alma vai reencarnar, mas estados mentais que vivemos durante a vida. E a fonte de todo sofrimento, segundo Buda, é o apego.

No final, o meu interesse não é pelo budismo como religião, mas como doutrina (Doutrina e religião). A diferença é que, enquanto uma religião se refere a uma crença em divindades, em uma explicação para a pós vida, uma doutrina é um conjunto de princípios de comportamento. A doutrina não necessariamente envolve a crença em um ser supremo ou divindade, nem é obrigatória a prática de rituais ou cerimônias específicas. E é uma doutrina que enfatiza uma iluminação não tanto por ganhar conhecimento, mas mais por perder o monte de ruídos que temos em nossas mentes. XP Educação é desaprender ignorância.

Abrindo um parênteses nerd aqui, um exemplo muito claro recente no universo nerd é a série Mandaloriano. Ele não precisa acreditar em nada para ser um mandaloriano, apenas seguir a doutrina.

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