Jiro Taniguchi é um de meus autores favoritos de mangá, mas aqui no ocidente ele se tornou mais conhecido por suas histórias de passeios pacatos pelas ruas do Japão provando iguarias como em Gourmet Solitário, ou preso em lembranças no Louvre em Paris em Os Guardiões do Louvre. Mas, pelo que vi essa era mais a sua produção posterior quando ele se tornou mais conhecido. Mas ele foi um dos mangakás mais versáteis do Japão para pagar o almoço durante sua carreira e passeou por uma série de gêneros. Em As Crônicas da Era do Gelo, conheci o lado épico sci fi existencial do autor que conhecia apenas pelos comentários de passeio no gênero “slice of life”.
Publicado originalmente em revistas japonesas nos anos 1980 e lançado em 2 volumes pela editora Pipoca e Nanquim, As Crônicas da Era do Gelo se passa em um futuro distante no qual a Terra foi tomada por uma nova era glacial que levou ao colapso da civilização humana, que conseguiu se reerguer dentro dessa nova realidade climática. Boa parte da história se passa em uma mina de carvão no norte congelado do planeta, mas ela acaba tomando rumos até existenciais que me lembrou a perspectiva da teoria de Gaia, do planeta inteiro como uma entidade viva e consciente.
Gostei desse inÃcio de sci fi corporativo, que me lembrou uma mistura de Akira com o filme Aliens. Mostra a rotina dos trabalhadores “blue collar” da mina, conversas sobre distribuição de turnos, intrigas com a gerência, contagem de dias para fim de contrato e ir descansar na cidade central. Acho que a segunda página do mangá já é de funcionários enchendo a cara em um puteiro.
Se a ambientação, e a posteriores reviravoltas, prenderam a minha atenção, quanto aos personagens eu achei meio genérico. O próprio autor aponta no posfácio que a narrativa segue “a estrutura clássica de um jovem que aprende a ser um homem graças a aventuras”. Mas isso foi imaginado dentro do estágio evolutivo do ecossistema e da humanidade em um futuro longÃnquo em era glacial.
Alguns pontos da história aparecem e somem, como os piratas do gelo, e acho que isso reflete um pouco a pressão por entrega de páginas para os prazos de publicação, mas pra mi até dá um sabor de história pulp sem altos planejamentos, mesmo dentro de seu escopo épico. E eu gostei como As Crônicas da Era do Gelo traz esses elementos familiares enquanto ao mesmo tempo explode de criatividade. De um inÃcio de cotidiano de uma mina de carvão futurista, partimos para uma jornada épica com sua própria mitologia, com gigantes primordiais, florestas conscientes, baleias gigantes cortadoras de gelo, cidades de crianças, inteligências artificiais buscando construir uma nova espécie humana. Além de me mostrar mais uma faceta de Jiro Taniguchi.
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