Junji Ito já apareceu no canal com Fragmentos do Horror, coletânea de contos de sua volta mais recente à ativa. Já Uzumaki, lançado originalmente no final dos anos 1990, é considerado a sua grande obra. A pequena cidade costeira de Kurozu é tomada por uma curiosa maldição em espiral que se manifesta do vento às mentes, em uma das melhores histórias de horror que eu já li.
A edição é caprichada da Devir, da coleção Tsuru, que tem outros mangás já resenhados aqui no canal também, como O Homem que Passeia e O Gourmet Solitário, ambos de Jiro Taniguchi.
Uzumaki traz claras influências do horror ocidental como Stephen King e Lovecraft, aliado à perspectiva e o folclore japonês. Acho injusto uma comparação direta, chamar de Junji Ito de “Lovecraft do Japão”, porque acho que ele traz uma consistência maior no terror que acontece em Kurozu. A principal influência que o próprio autor menciona em entrevistas é a atmosfera de terror Lovecraftiana.
Mas o terror em espiral se manifesta de diversas formas, um homem obcecado por caracóis, rodamoinhos de vento, impressões digitais, o girar da luz de um farol, a atração de um rodamoinho, cachos de cabelo, corpos contorcidos, andar em círculos, o perfurar de uma furadeira, o retorno cíclico do tempo. Mas mesmo com essa variedade, existe uma consistência nesse terror em espiral que conecta tudo. Também existe uma mistura de horror mental e físico, quando Lovecraft eu diria que é muito mais do horror mental.
O livro é dividido em 20 capítulos que mostra o progressivo crescimento da maldição da espiral, que começa com lago inocente como a excentricidade de um senhor obcecado em observar o casco de um caracol. Essa progressão gradual é muito interessante, pois mostra a racionalização das pessoas tentando aceitar em suas mentes essa influência sobrenatural, conforme ela ganha proporções apocalípticas.
É uma obra de verdadeiro amor e reverência ao medo, que você realmente não sabe para onde vai. A própria obra te suga e confunde como uma espiral.
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