Adolescentes sofrem de doença desfigurante em HQ surreal ambientada nos subúrbios norte-americanos durante os anos 70
A história de Black Hole acompanha os adolescentes de uma pequena cidade norte-americana durante uma epidemia de uma doença venérea que causa deformações diversas nos enfermos. O roteirista e desenhista Charles Burns usa esse artifício como se fosse uma manifestação material da sensação de solidão, alienação e inadequação da adolescência e parece colocar bastante da sua própria biografia crescendo no subúrbio de Seattle nessa época de transição cultural. Na qual “não era mais cool ser hippie, mas o Bowie ainda era muito esquisito”.
O estilo do traço de Burns—com farto uso de sombras do preto—ajuda a criar uma atmosfera surreal ainda mais surrealizada pelo constante uso/abuso de drogas dos personagens. Muitos dos adolescentes afetados pela doença, que podem tanto se tornar completamente grotescos como ter uma manifestação pequena e fácil de ser escondida, se reúnem em um exílio voluntário em uma floresta. A trama se complica quando bonecas bizarras começam a aparecer penduradas nas árvores e, depois, os assassinatos.
Achei Black Hole uma leitura bacana, mas a minha experiência na adolescência—longe de ter sido uma beleza—deve ter sido beeem menos psicodélica que a desses personagens e quem sabe a do próprio Burns. Li a edição norte-americana, que reúne os 12 revistas lançadas nos EUA entre 1995 e 2004, mas a Conrad editou a obra no Brasil dividida em dois volumes.
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