A história de um cineasta à beira da morte contada de forma a levantar perguntas e não trazer respostas
Signal to Noise é uma HQ de Neil Gaiman ilustrada por Dave McKean que conta a história de um cineasta com um câncer terminal. Ele trabalha por conta pessoal em um filme, ciente que não vai ter tempo de termina-lo.
Os dois trabalharam juntos na série Sandman, com McKean criando as capas surreais formadas por imagens sobrepostas que se tornaram clássicas da saga dos Perpétuos. Muitas vezes temos HQs em que parecem que roteirista e desenhista vão cada um para um lado, ou em que um domina o outro. Signal to Noise é um exemplo de como os trabalhos de ilustração e texto podem ser complementares e criar algo maior do que as partes separadas.
O traço de McKean é ao mesmo tempo preciso e incerto. Chega a ser fotorealista em detalhes, mas turvo no todo. Isso enriquece bastante a obra e bota em primeiro plano a força que as imagens podem ter na ambientação, ponto forte dos quadrinhos. É a diferença entre uma história em quadrinhos e uma história ilustrada por quadrinhos.
O livro traz a ideia de interferência em múltiplos nÃveis, como o barulho do cotidiano que dificulta enxergar o que se quer de fato, ou que, somos, ou quem desejamos nos tornar. A HQ também traz como bônus plus a mais duas ou três histórias curtas no inÃcio. Uma em particular me chamou a atenção, uma espécie de poema de Gaiman sobre a queda do muro de Berlim. Um texto que, novamente, ganha novas e ambÃguas dimensões com o trabalho de McKean.
Signal to Noise faz o que toda boa arte deve fazer; não traz resposta ou moral alguma, mas levanta perguntas. O livro traz com força a ideia de um fim do mundo individual. Todo dia, o mundo está sempre acabando para alguém. O mundo está repleto de histórias para quem sabe onde olhar.
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