Robert Charles Wilson é um escritor canadense vencedor de diversos prêmios de ficção científica, incluindo o Hugo pelo romance por Spin em 2005. Em Darwinia, de 1998, o autor cria uma proposta interessante de história alternativa.
Em 1912, após um misterioso evento climático semelhante a uma aurora boreal, o continente europeu desaparece e é substituído por uma nova Europa. Todos os traços da civilização humana desaparecem da noite para o dia e a fauna e flora do Novo Velho Continente são completamente distintas de como conhecemos, como se tivessem seguido um caminho evolutivo diferente há milhões de anos. Insetos gigantes, plantas com cheiros curiosos, cobras com pelos e muito mais se espalha pela nova Europa.
A primeira parte do livro se aproxima muito de Coração das Trevas, com as descrições da magnitude da natureza, que parece engolir as expedições humanas. É bem interessante as consequências políticas e religiosas do Milagre, que muitos religiosos consideraram um “segundo dilúvio” feito para purificar o continente. Mas o que mais me atraiu foi a sensação de mistério que o evento causou nos personagens e no mundo. Como a ciência tentaria explicar algo tão monumental, algo tão aparentemente divino, como o desaparecimento de um continente inteiro?
O autor dá um passo bem ousado no meio do livro, que muitos afirmam ser uma falha mortal em Darwinia. Descobrimos após ler 120 páginas que a história é uma ficção científica, e o escritor já dá toda a explicação do fenômeno de cara antes do meio do livro, quando antes havia um cuidadoso crescendo de mistério na narrativa de Darwinia. Sem estragar muito da história, digamos apenas que o livro dá uma guinada súbita do sabor de aventuras de descobrimento à la Júlio Verne para a realidade simulada de Matrix.
Pessoalmente, achei uma maneira ousada e não convencional. Existe uma tradição muito grande nos nossos sistemas de narrativa de descobrir aos poucos quem é o assassino, ao invés de nós sabermos quem é o assassino e estudarmos a reação dele ou dos personagens. É bem curioso ver uma quebra nesse sistema, apesar disso criar uma sensação de frustração e de trazer a pergunta como a história poderia ter sido caso o mistério fosse mantido.
Na parte final o livro se torna bem mais sobrenatural, com uma batalha entre anjos e demônios cósmicos, e perde um pouco da força de sua premissa, mas Robert Charles Wilson, escritor experiente, consegue segurar a tensão das personagens. Um belo livro, bem escrito, com uma estrutura ousada que me incentiva a comprar Spin em um futuro próximo.
Querido Solari, estamos sentido uma falta tremenda dos teus vídeos e textos! aproveito e desejo-lhe um feliz natal atrasado e um excelente ano novo. Não se cativa as pessoas para depois abandoná-las (rs) mas espero que o motivo da tua ausência seja positivo. Sinta-se virtualmente abraçado.