Um Cântico Para Leibowitz, de Walter M. Miller 📖 Leituras do Solari #150

Monges guardam conhecimento após guerra nuclear em romance de raro humor e sensibilidade

Walter M. Miller Jr. era um escritor razoavelmente prolífico de histórias curtas para revistas de ficção científica nos anos 50 e em 1960 ele lançou o seu primeiro romance. Sua estreia, A Canticle for Leibowitz venceu o prêmio Hugo em 1960 e é considerado até hoje um dos maiores livros de ficção científica já escritos, sendo reeditado 25 vezes até hoje.

O autor nunca mais escreveu ficção após esse seu clássico (apenas uma continuação póstuma foi lançada baseada nos seus manuscritos) e ele se suicidou em 1996. Ironicamente, a terceira parte de A Canticle for Leibowitz possui uma das mais belas e convincentes argumentações contra o suicídio que já vi.

Após uma guerra na qual o mundo foi tomado por um “dilúvio de fogo”, como nos contam os monges da Ordem de Leibowitz, a humanidade foi levada novamente a um período de barbárie e ignorância e os monastérios se tornaram novamente os depositórios do conhecimento humano.

Miller Jr. usa um humor afiadíssimo paralelamente a uma prosa muito bem escrita para caracterizar as consequências de uma guerra nuclear (o tal dilúvio de fogo) de forma que me fez, perdoem o clichê que se mostra verdadeiro nesta situação, rir e chorar. Os monges da ordem fundada pelo tal Leibowitz do título, um engenheiro que trabalhava na construção de uma estrada no momento da guerra, idolatram a “memorabilia”. Qualquer objeto que encontram, por mais mundano que seja, é tratado com reverência religiosa e interpretado de todas as formas possíveis em busca de sinais. Não deixa de ser engraçado ver os monges buscando sentidos ocultos no que aparentemente não passa de uma lista de supermercado.

Mesmo sendo católico convertido, o escritor não deixa de satirizar a estrutura da Igreja Católica, retratando os monges de uma forma ao mesmo tempo cômica respeitosa. A Canticle for Leibowitz é dividido em três partes. Fiat Homo (seja feito o homem) se passa cerca de 600 anos após o dilúvio de fogo, Fiat Lux (seja feita a luz) mostra o fim da idade das trevas com os primeiros geradores elétricos e em Fiat Voluntas Tua (seja feita a sua vontade) mostra como o caráter cíclico da história, com a humanidade à beira de outra guerra nuclear.

Trata-se de um dos livros que mais me marcou e pouco posso dizer aqui que faça juz a ele. Li A Canticle for Leibowitz abismado do começo ao fim imaginando como foi possível construir algo assim (o que até hoje só aconteceu quando li Shakespeare, Milton e Cervantes). É uma obra que tive muito prazer de ler e tenho certeza que ainda relerei muitas vezes. Só não gostei muito foi dessa capa da minha edição mais recente, portanto vou incluir essas abaixo.

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